Realizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), pelo Woodwell Climate Research Center e pelo EDF (Environmental Defense Fund), o CONSERV foi tema de eventos oficiais e paralelos na COP26, que aconteceu em Glasgow, na Escócia. O mecanismo privado de adesão voluntária compensa produtores rurais na Amazônia por manterem de pé a vegetação nativa que poderiam, por lei, desmatar em suas propriedades.
Seja no Brazil Climate Action Hub, espaço da sociedade civil na Conferência do Clima, no Nature Pavilion ou no Pavilhão Euroclima+, a iniciativa esteve entre os tópicos das discussões globais pelo clima. Nesta quinta-feira (11/11), o CONSERV foi destaque no debate “Neutralidade climática no Brasil: zerando o desmatamento na Amazônia e as ações do setor empresarial”.
Entre os participantes do evento, o diretor-executivo no IPAM, André Guimarães, avaliou o painel como “um bom exemplo do compromisso brasileiro em lidar com os desafios de direcionar negócios para a sustentabilidade e, como organização científica, estamos tentando contribuir para isso com o CONSERV”. E comentou sobre o papel da instituição: “Hoje mesmo, a pesquisadora no IPAM e no Woodwell Climate Research Center, Ludmila Rattis, publicou um artigo sobre o limite climático da agricultura no Brasil. Em diversas frentes de atuação, esse é o tipo de contribuição que estamos construindo.”
Também estiveram presentes no evento o pesquisador no IPAM, Marcelo Stabile; o secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará, Mauro de Almeida; a consultora em Sustentabilidade na Suzano, Sarita Severien; a líder de estratégia de envolvimento em meio ambiente e agricultura para a América Latina na Bayer, Alessandra Fajardo; o cofacilitador na Coalizão Brasil e presidente no Conselho Diretor da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), Marcello Brito; e a presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), Marina Grossi.
Potencial de expansão
A discussão girou em torno da mobilização do setor empresarial brasileiro para atingir a neutralidade climática e emissões líquidas zero até 2050. Com potencial de evitar o desmatamento legal na Amazônia brasileira, o CONSERV foi abordado entre as iniciativas promissoras no Brasil para contribuir com a mitigação das mudanças climáticas.
“Sem a floresta há mínimas chances de alcançarmos as metas globais pelo clima”, disse Guimarães. “Por isso, a articulação entre diferentes setores da sociedade é necessária para manter a integridade da Amazônia e entregar à sociedade o fim do desmatamento”. Na Amazônia Legal, há em torno de 11 milhões de hectares de terras que poderiam ser legalmente desmatadas e que podem ser protegidas com o CONSERV, lembrou Stabile. “Não é uma questão de ‘se’, mas ‘quando’ produtores rurais vão desmatar essas áreas. Nós precisamos engajar produtores e setor privado para cooperar, criando incentivos para que escolham manter a floresta”, acrescentou.
O CONSERV está em funcionamento há um ano. Já são nove contratos com produtores, 25 pagamentos realizados e uma área de mais de 11 mil campos de futebol conservada – metade do território de Glasgow. Isso significa 133 milhões de toneladas de carbono estocado no solo que, se desmatado, equivaleria a 22% das emissões do Brasil em 2019. Para o pesquisador, um potencial a se expandir. “Trabalhando com o governo e com o setor privado vimos oportunidades para fazendeiros produzirem conservação. O potencial do CONSERV é muito maior e precisamos expandir o mecanismo para outros estados.”
De acordo com dados apresentados por Brito no evento, aproximadamente 1.8 milhões de nascentes d’água no Brasil estão localizadas dentro de propriedades rurais particulares. “A cada dólar pago por comida no Brasil, algo em torno de 5 centavos chega na mão do produtor. Nós precisamos de investimentos financeiros em soluções baseadas na natureza e na ciência”, comentou, informando que o setor do agronegócio brasileiro é responsável por 20% dos empregos diretos no país.
Diálogos para encontrar o ‘como’
Grossi mencionou que o Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo e que as metas internacionais para diminuir os efeitos das mudanças climáticas já estão colocadas, “estamos aqui para discutir o ‘como’, entre construir consenso e avançar”. A presidente avalia que a Conferência do Clima em Glasgow tem maior presença de empresários do que as edições anteriores. “Temos uma robusta representação do setor privado nesta COP e estamos fazendo um bom trabalho com a sociedade civil para parar o desmatamento e alcançar a justiça climática”, destacou.
Experiências de empresas como Suzano e Bayer foram compartilhadas no evento. A primeira, representada por Severien, mantém quase 1 milhão de hectares (40% de suas áreas) protegidos na Mata Atlântica, no Cerrado e na Amazônia e tem a meta de capturar 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025. A segunda, pela porta-voz Fajardo, tem o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2030.
No setor público, o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal reúne os estados Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Almeida explicou a atuação do Pará, que envolve combate ao desmatamento, programas de territórios sustentáveis para eficiência produtiva e regularização fundiária, além de estruturas de financiamento climático. “Diminuímos o desmatamento em 12% entre 2020 e 2021, mas nós não precisamos apenas manter a floresta de pé, também fazer bom uso dessa floresta”, disse o secretário.
Os participantes acordaram que produzir e preservar ao mesmo tempo é uma possibilidade e um caminho. Guimarães concluiu: “Comunidades tradicionais, empresas, poder público, ONGs e sociedade civil, nós vamos fazer isso juntos.”